O café gelava na xícara. Tão puro e fumegante. Você estava calado, e de seus olhos saltavam lágrimas brilhantes. Nunca me disse adeus, nem nunca quis dizê-lo. Tantos nós entremeados no meio da garganta, o meio fio, o engasgo, o pedaço de pão no prato, a manteiga derretida beijando a beirada do prato quebrado. Eu a lambia, e lambia também o açúcar do café que outrora fora fumegante. Silenciados. A manhã brotava, como uma maçã vermelha e fresca que nasce de uma macieira em flor. Você chorava, e eu não sabia necessariamente o porquê. Seus dedos tamborilavam sobre a mesa de mármore, como num ritual angustiante. Ouvia o barulho dos carros que já seguiam pelo asfalto, ouvia o barulho de uns poucos pássaros que se sentavam nos galhos secos das árvores do quintal. Não fuja, eu sussurrava caladamente enquanto levava a xícara até a pia e a enchia com a água cristalina de eternidade. Terminamos nosso café em silêncio, bebericando nosso adeus, lentamente, sugando cada gota daquele momento orvalhado numa manhã de outono. Sentei-me novamente, e entre mágoas olhei-o, e ele olhou-me com olhos partidos, como quem está para rasgar o coração e entregar-me os pedaços. Foi então que ri. Era uma situação ridícula. O amor era ridículo. Nós éramos ridículos. Tão ridículos a ponto de chorar enquanto tomávamos nosso café. Havia tanta dor contida naquele riso, tanta mágoa, que o riso transformou-se em pranto. Não quer mais café? Murmurei, e ele respondeu-me negativamente. Não. Então, pensei em pedir para que ele não fosse embora e não me deixasse em meio a cafés e pães amargos daquela manhã, mas ele se foi e eu fiquei bebericando minha tristeza e umas poucas gotas do gélido café que sobrara em sua xícara.