O Bicho Homem


Sou tão bicho quanto homem. Ora, todo homem é um bicho por natureza, e nada é mais certo do que isto. Instintos afloram, rasgam as carnes, perfuram a alma, e entorpecem nosso único diferencial: a racionalidade. O sangue pulsa quente em minhas veias, jorrando pelas artérias, penetrando pelo meu interior.


Sou um animal, tão selvagem quanto as águias das montanhas mais remotas, quanto os cavalos mais bravios, que exibem ostentosamente seus músculos de ser indomável e majestoso que é, quanto os lobos que uivam à noite, e se entorpecem de liberdade a cada nova manhã. Sou bicho, grito de dor, sangro na fertilidade, derramo leite na maternidade. Sou bicho, e exibo com orgulho o bicho que sou. Percorro os mais temidos bosques, não há temor, há apenas selvageria. Todo ser-humano é bicho, que na sua eterna covardia, se camufla na civilização.


Quisera eu, viver para sempre, como nas profundezas do passado, dentre tantos outros bichos como eu, perfurando a escuridão, sem medos, sem receios, sem o disfarce cínico da razão. Quisera eu, correr como ser solto, livre, sentindo meus pêlos de bicho se eriçarem a cada rajada de vento, as árvores se remexendo e dançando no ritmo da eternidade, as águas percorrendo o caminho até seu leito, a chuva inundando meus cabelos de bicho, meus olhos selvagens, matando a sede, dando-me vida. Quisera eu ser como antes, conhecer o estado mais puro de ser-humano, de ser bicho, de ser indomável, de ser livre. Quisera eu gritar, uivo animalesco, libertar-me das grades de disfarce de ser-humano, e poder neste uivar soltar aos quatro ventos o bicho que sou.

Anos Escolares




Meu coração fica apertado ao lembrar que na última quinta-feira minhas aulas chegaram ao fim. Foram anos e anos de escola, e no decorrer deste caminho pude conhecer pessoas maravilhosas, amigos (as) eternos, colegas de riso, de choro ou de esporte. Ah, são tantas as lembranças, que fica difícil esquecer a maioria dos momentos que eu vivi nesta trajetória escolar.


Na vida, tudo é marcado por um início e um fim, até mesmo a própria vida. O início foi há tanto tempo, quando eu era apenas uma criança, desenhando rabiscos, tomando suco de laranja numa garrafa da Branca de Neve e chamando as professoras de "tia", numa escolinha próxima de casa.


Mais tarde, os estudos ficaram um pouco mais sérios, e além de desenhar nós também aprendíamos o alfabeto e já tínhamos a liberdade de pintarmos painéis para enfeitarmos as salas de aula.


Até que eu ingressei na primeira série, e mudei de escola. As professoras deixaram de ser chamadas de tia, eram apenas "professoras", pois como diziam elas, não eram irmãs de nossos pais. Nós então, começamos a crescer mais rapidamente, aprender o que são parágrafos, emendar e remendar pequenos textos sobre a paz, ou sobre o patinho na lagoa. Tínhamos o direito de comprar alguns salgados na cantina da escola, ouvir músicas da moda, e tocar flauta às terças á tarde. Até que crescemos demais, e a escola ficou pequena para nós.


Então eu parti, para uma escola maior. E lá além de estudar, nós meninas, começamos a achar os garotos interessantes e até mesmo bonitinhos. Era o íncio da fase da paquera. E enquanto isso, as contas de matemática ficaram mais complicadas, e as redações mais extensas. Começamos a aprender gramática e a reproduzir obras de Picasso, do modo como conseguíamos. Os anos foram passando, a fase dos ficantes se iniciou, e nós agora já éramos não "pré-adolescentes", mas sim, adolescentes, ou "aborrecentes" como nossos pais nos adoravam chamar. A escola mais uma vez, ficou pequena demais para nós. Precisávamos voar, e então ingressei na última escola que eu estudaria. Se iniciava a fase do "colegial".

Fui estudar num bairro longe de casa. Lá eu sabia, era minha reta final. Eu não estava apenas tentando reproduzir Picasso, ou fazer continhas de matemática, eu estava ali para anos mais tarde ingressar numa faculdade. Dediquei-me ao máximo ao estudos. A escola era rígida, os professores também, mas além de rígidos eram nossos amigos, que nos ensinavam com afinco e dedicação. Este último laço perdurou por três rápidos anos, mas posso dizer que foram os três anos escolares-acadêmicos mais felizes de minha vida de estudante. Vou sentir saudades, saudades de tudo o que aprendi, de tudo o que fiz, de todos os laços que formei, e de todas as danças de hip-hop que realizamos. Vou sentir saudades das músicas no intervalo, do croissant de quatro queijos, das escadas intermináveis, dos professores, das provas, e principalmente das amizades que lá pude construir, e que carregarei para sempre comigo. Nesse momento, apenas uma frase surge em minha mente: Valeu a pena!

Agora respiro novamente, procuro criar novas asas, alçar outros horizontes, criar forças e voar, não é fácil, eu sei, iniciar um novo caminho é uma tarefa árdua que exige persistência e dedicação, mas eu irei buscar, e persistirei nesse caminho que já tenho traçado em minha mente, uma nova meta.

E que daqui há outro ciclo encerrado eu possa olhar para trás e dizer novamente: Valeu a pena!





Ps: Desculpem pelo meu sumiço aqui no blog. Nestes últimos tempos estava trabalhando e estudando. Agora, com o término das aulas terei mais tempo para postar regularmente aqui no Anjo do Pó.

E em época de eleições...


A democracia é jovem. Tivemos o direiro do voto universal garantido a todos os cidadãos, obrigatório para os maiores de 18 anos após muita luta, revoluções e revoltas.
No início só homens livres com certa renda tinham o direito ao voto. Era coisa restrita, e quando não era, o povo votava com o patrão do lado, o chamado "voto de cabresto". Era o fazendeiro quem decidia, dependendo de seus aliados na política, dependendo de sua vontade e de sua opinião.
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Contudo, após um período de massacre, e coma da democracia, ela ressurgiu, e em 1989 voltou com força total - todos podiam votar, propaganda eleitoral na tv e rádio, diminuição do mandato para quatro anos, etc. Não foi tarefa fácil, como eu já havia dito.
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Atualmente, nós cidadãos e eleitores temos o poder do voto. Possuimos o direito à cidadania, direito este que não nos foi dado de graça. Por isso, o voto é uma arma, utilizamos dele para fazermos nossa opinião ter voz ativa na sociedade, mas muitas vezes, nós o desperdiçamos ao votarmos nulo. Concordo que nosso Brasil vem sofrendo com crises políticas, dinheiro na cueca, e muitas falcatruas de que nem vale a pena falar, mas entre sujos e mal lavados, ou melhor dizendo, entre palhaços e antigos caciques com contas na Suíca, temos de escolher um candidato, que no pior dos casos, seja o "menos pior" para ocupar um cargo público e representar o povo na Câmara, Senado...
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A situação tá "braba", todo mundo se candidatando sem critério algum. Mas, vamos pensar naqueles que revolucionaram, que reformaram o sistema político brasileiro, que nos garantiram o direito ao voto, e façamos valer a pena. Conformismo e reclamação nunca nos levaram a lugar algum. Que nessas eleições de 2010, o povo se conscientize, e escolha o melhor para o país. Pois, cada povo tem o governo que merece, e que nós sejamos merecedores de um bom governo.
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Bom Voto!
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Ainda falando de eleições...
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Já repararam, como a maior parte dos candidatos tentam passar uma imagem de ecologicamente corretos, porém, continuam a emporcalhar a cidade com milhares de panfletos? Nas vésperas da eleição então, o chão é tomado por esses malditos papéizinhos que grudam no chão e teimam em não sair. Fico cá me perguntando, qual seria o propósito disso? Se fossem tão politicamente corretos, não deveriam tomar consciência da fabricação do papel, e da consequência que ele trará para agravar o problema da poluição de rios, além de ser um aliado das enchentes?
Será que existe algum candidato que dispense esses papéizinhos? Se alguém souber, por favor me informe.
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Além disso, candidato em época de eleição adora conceber uma entrevista. Dias atrás, minhas amigas e eu tivemos que realizar um trabalho para a matéria de sociologia, já que estamos terminando de cursar o terceiro ano do ensino médio. O tema era feminismo, e a nossa ideia era a de criarmos um blog sobre o assunto (http://parfumdefemmefeministe.blogspot.com/), além do blog também tivemos a ideia de entrevistarmos algumas pessoas na rua de nossa cidade e sabermos o que elas pensam a respeito da mulher na atualidade, da Lei Maria da Penha e coisa e tal. Pelo fato de que teríamos que gravar as entrevistas, muitas pessoas se recusaram a serem filmadas, mas não os políticos. Estes discorreram sobre o assunto de forma bastante natural, o que nos ajudou bastante no trabalho. Conversamos com o vereador rio-pretense, Marco Rillo, e ele nos recepcionou muito bem, e até reclamou pela rapidez da entrevista. Foi ótimo termos ido até seu gabinete na câmara dos vereadores em São José do Rio Preto, pois só assim descobrimos que num próximo trabalho, procuraremos outros políticos ou candidatos para se pronunciarem. Pelo menos, a entrevista é garantida.
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Ps: Na foto do início do post, estamos ao lado do vereador rio-pretense em seu gabinete. Simpatia não faltou. E para quem quiser dar uma olhada na entrevista, entrem no link do blog acima. Além do Rillo, o jornalista Juliano Abocater, a esposa do candidato a Deputado Estadual Sandra Chaves e Erica Aquino, jornalista do jornal Bom Dia, nos concederam suas opniões sobre o feminismo.
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Ps2: Já aviso, que nas próximas eleições vou candidatar meu gato a Deputado Federal, e tenho dito.

Frascos de Vidro


Estava sentada, à beira do precipício. Suas pernas trêmulas batiam descompassadamente uma na outra. As mãos suavam. Os nós arredios de seus longos cabelos balançavam conforme a regência da ventania. Ela existia. Sim, apenas existia. Os olhos muito abertos sendo perfurados por uma luz distante. A vida escapando descontroladamente de suas mãos.

Seus sentimentos eram guardados em vidros, que ela fazia questão de armazenar num pequeno e velho armário dos fundos de sua casa. Tinha medo. Deixava-os guardados, enquanto existia. Conferia o conteúdo dos frascos diariamente, fazendo questão de tampá-los muito bem. Todas suas dores, todos seus amores, toda sua raiva, angústia, inveja, paixão, ânsia, esperança e solidão estavam armazenados no pequeno quarto, sujo e malcheiroso dos fundos.

Certo dia, ao conferir o conteúdo dos pequenos vidrinhos, deixou um deles cair ao chão, fazendo com que o conteúdo do frasco soltasse sua grossa seiva de ódio. Tentou correr para não aspirar, porém não havia mais tempo: como ela desconhecia esta emoção, e todas as outras, sua alma encheu-se puramente do mais profundo ódio, deixando-a sem anticorpos para tal sentimento. Começou a atirar os outros vidrinhos, que foram caindo no chão, liberando as emoções que ela jamais experimentara na vida: rancor, esperança, inveja, e tantos outros que foram sendo libertados seguidamente.

Ao se deparar com o penúltimo frasco, viu a seiva sibilante que reinava por entre os vidros esfumaçados. Sem antes pensar, atirou-o longe, fazendo com que um líquido escuro inundasse suas narinas por um cheiro forte e agridoce. Antes que pudesse atirar o último frasco, seu coração sem sentimentos foi preenchido por uma sensação indescritível. Naquele instante, ela experimentou um estado sublime de sua existência, agora ela acreditava na beleza da vida, sem temê-la, e acreditava que era um engano de sua parte guardar emoções em frascos. Era preciso vive-las, as boas e as não tão boas assim, para ter anticorpos, para ter vida, para ter alma.

Uma lágrima escorreu de seus olhos, antes de seu destino final. A morte agora a abrangia, em seu suspiro seco e impiedoso. Morrera. Morrera de amor. Pois dentre tantos sentimentos guardados nos pequenos frascos, o amor fora o mais forte e o único capaz de fazê-la sentir viva, e de fazê-la sentir morta.

A Caminho do Nada


(...) Andamos por aí sem nada a dizer. Nos deparamos com míseras pessoas, que pareciam sombras perdidas, assim como nós, entre um mundo que parecia incompreensível para Dave, e que naquele momento havia se transformado incompreensível para mim também. O mundo era uma escuridão, e nós ali estávamos nos comunicando com tudo o que nos rodeava.

As luzes passavam por nós como um borro infame, às vezes na forma de lanternas dos carros também escuros, às vezes como uma iluminação ordinária que se escondia atrás de alguma grande árvore pendida em uma calçada totalmente livre de folhas.

Ele sequer me olhava. Eu o observava todo o tempo. As mãos caídas sob o corpo, passos ligeiros. Seu olhar era um mesclado de solidão, dor e liberdade.

Eu não estava ao seu lado por trabalho. E realmente, não sabia explicar o motivo por estar seguindo-o pelas ruas escuras de Londres.

Chegamos até uma loja pintada de verde escuro. Estava sem a câmera fotográfica, sem papéis, canetas, ou qualquer coisa que seja sinônimo de minha profissão. Eu só tinha minha alma, uma bolsa grande, e Dave ao meu lado. Ele se sentou, e eu parei a alguns metros de distância.

Ficamos assim por alguns minutos, sem nos mexermos, sem sequer enxergarmos o outro lado da rua pouco movimentada. Minha atenção estava concentrada apenas no rapaz que eu conhecera no Ripple’s.

Enquanto meus cabelos caiam geladamente no rosto, ouvi a sua voz distante, que se voltava para mim:

-Por que você não vai embora? Eu não sou confiável.

Suas mãos se seguravam, se safavam. Eu corri meus olhos por ele, e então respondi após sentar-me ao seu lado, como uma ligeira órfã repentina, que busca amparo na companhia de um outro alguém, por mais desconhecido que seja:

-Ninguém o é.

Ficamos assim por um hiato indefinido. O tempo corria solto. A lua deixava de brilhar, despedindo-se de uma noite escura. Agora a aurora chegava com sua força poderosa, iluminando até aqueles que estavam na escuridão.

Dave ergueu sua cabeça, olhando para um pôr-do-sol amarelado que brotava do infinito. Os meus olhos se estreitavam, firmes, meio avermelhados pela noite sem sono, pela cerveja quente do bar, pela visão daquele rapaz.

-Por que você vem aqui Dave? – Disse, tentando quebrar o silêncio.

-A gente sempre tenta amenizar a dor, por mais que ela queira prevalecer. -Seus olhos agora pingavam agonia. –Venho aqui para compor também.

Sorri para ele, enquanto seus olhos se fechavam. E se eu pudesse, guardaria para sempre sua agonia que caía, para jamais esquecer aquele momento, de aurora fresca que brotava numa manhã da Europa.

-Sabe Dave, eu tenho um costume que não é italiano, creio eu. – Ele me olhou curioso, e eu prossegui: –Meu costume é guardar minhas dores em potes de vidros, para que elas não se percam com o tempo. Para quando olhá-las lá trás, perceber que a dor faz parte de tudo. Faz parte do mundo, faz parte coisas boas. – Seus olhos agora pendiam dor e compreensão. – Não se pode ser totalmente feliz só com a alegria. Há dor em tudo, para que a felicidade seja completa.

Lembrei-me de Miguel, da nossa distância, de minha dor que crescera, e que agora murchava como uma flor em dia de calor excessivo, que perde sua beleza, enquanto os raios de sol penetram nela, em suas pétalas encardidas de vermelho. Os raios poderosos eram como os daquela manhã, que fazia murchar minhas lembranças da Itália. Naquele momento para mim só havia Londres, e Dave.

-E quando se nasce da dor? Quando se nasce do pó? – O sol agora se aconchegava mais e mais, junto de nuvens gorduchas, tudo colado a um céu colorido. Amarelo, laranja, roxo e por fim a cor predominante, o azul. Era a aurora surgindo, finalmente.

-Se aprende a viver. –Respondi.

-Por que você não volta para sua casa? – Ele sussurrou. Cada palavra proferida aumentava minha dor, mas eu não podia deixá-lo, algo invisível me prendia à ele. - Você nem me conhece! – Disse ele, repentinamente, levantando-se, enquanto eu também me levantava. – Vá pra casa. – Abaixou sua cabeça desolado.

-E porque você não vai para a sua e acalenta essa sua dor junto de sua família?

-Eu só tenho a mim mesmo. –Respondeu-me amargurado. De repente virou-se e começou a andar do mesmo modo apressado, cabisbaixo. Seu jeito desolado, meio perturbador,era imbatível para mim mesma. E então eu decidi correr para fora daquele lugar, se possível para fora do planeta, para longe daquele louco músico londrino. E então eu corri. Po,rém uma parte de mim ficara com Dave, e até aquele instante eu não sabia o que era a solidão. Até aquele instante...
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Algumas notas sobre o post
  • O texto é de minha autoria, e faz parte de um amontoado de papéis que quando acabados formariam um romance homônimo ao blog.
  • Encontrei-os hoje, e decidi digitáliza-los para possíveis postagens, ou para fácil "manuseio" e edições futuras.
  • O projeto foi ignorado por muito tempo, depois que iniciei um outro projeto que no momento está pausado.
  • O nome do personagem Dave, inicialmente era Edward, mas como o nome poderia ser associado a algum ser vampiresco, decidi tranformar o antigo Edward em Dave.
  • Dave não é um vampiro, ou qualquer coisa do tipo.
  • Agradeço a quem ler o post, e sintam-se a vontade a comentarem o que quiserem.

33 anos sem o Rei do Rock

Há exatos 75 anos, nascia Elvis Aaron Presley na cidade de Memphis em Tennessee, EUA. Filho de pais humildes, Elvis foi o sobrevivente de parto da dupla de gêmeos univitelinos; seu irmão Jesse Garon nasceu natimorto. O garoto loiro viveu seus primeiros anos de vida em meio aos destroços de um furacão em Mississipi. Antes de alcançar o sucesso, Elvis The Pelvis como era chamado no começo de sua carreira por sua ousada dança, foi motorista de caminhão e lanterninha de cinema.

Na década de 1950, o garoto de Memphis, grava algumas canções de forma experimental. Sua música tinha inspirações no gospel que ouvia, country, pop e ópera. Em 1956 Elvis se torna sucesso mundial. Nos anos seguintes grava filmes, e torna-se um fenômeno de vendas, tendo hits como Hound Dog, , Blue Suede Shoes e outras inúmeras canções no topo da Billboard.

Anos de um estrondoso sucesso se seguiram, e em 1977 Elvis tem um colapso associado à disfunção cardíaca, o que acaba levando o Rei do Rock à morte. 33 anos depois, alguns de seus fãns acreditam que Elvis não tenha morrido. E não morreu. Suas músicas estarão para sempre eternizadas nos discos, cd's, mp3 players e principalmente em nossos corações.


Ps: Tinha tantas coisas a dizer sobre este meu ídolo, mas as palavras foram escapando e escapando, e então eu me vi sem elas, levando comigo apenas a enorme nostalgia de uma época que não vivi, mas que sinto saudades. Viva o Rei do Rock!



Fuga


Há momentos em que anseio a fuga. Carregar apenas uma surrada mochila nas costas e partir, sem ter roteiro de viagem, sem ter destino de chegada. Seguir, ofegante, coração acelerado, passos descompassandos pisando firme sobre o asfalto, à procura de coisa alguma, à procura das coisas todas, do tudo e do nada.

Meus olhos arderão perante as luzes majestosas e brilhantes da cidade, minha garganta secará ao defrontar com tamanha sede de vida. Minha alma se encherá de esperança ao fitar as longíquas e misteriosas estrelas pintadas no céu, enquanto a escuridão se apossará de mim, pois só em plena ausência de luz é que conseguirei vê-las a anos-luz de distância. Eu tentarei voar para alcançá-las, saltarei pelos precipícios e gritarei enquanto estiver muda, mas nada disto me importará realmente. Caminho com sangue seco estampando minha pele quente de vida, caminho com nós entre meu ser, caminho com uma mochila surrada que certamentente jogarei no próximo beco sem saída, na próxima rua escura, no próximo poço em que irei naufragar. Carrego-me, e pensando bem, carregar-me já é suficiente, embora ser-me por ora é sentir-me incompleta. Estou levando além de mim, uma garganta pronta para se saciar, uma alma aturdida, porém cheia de esperanças.

Estou à procura do etéreo e do imperfeito. Ora essa, deixe-me ir apenas, deixe-me partir... Pois preciso fugir. Fugir... Fugir... Fugir de mim mesma.

O Mais Belos dos Roteiros Criados Pela Natureza

Nós, os seres-humanos somos caracterizados por sermos reclamões. Simplesmente porque não resistimos deixar de reclamar sobre nossas vidas, sobre os problemas que nós mesmos criamos, não cansando de bradar aos quatro ventos o quão nossa vida é difícil, tortuosa, dura... Mas se parássemos para olhar ao nosso redor, mas precisamente para o Polo Sul (sim, o Polo Sul!), nos depararíamos com a dura, porém, incrível vida dos pinguins.


Os pinguins são aves existentes no Hemisfério Sul, pertencentes a família Spheniscidae. Possuem asas, mas não podem voar, são ótimos nadadores, chegando a atingir 45 km debaixo das águas. Sobrevivem em condições extremas, enfrentando terríveis tempestades de gelo, e uma temperatura de -40º C.


No ano de 2005, o biólogo e cineasta francês Luc Jacquet filmou durante um ano a vida dos pinguins. O filme em formato de documentário é um emocionante relato de imagens sobre a vida destes animais que vivem em constante luta pela preservação da espécie.


“A Marcha dos Pinguins” é um longa que retrata detalhadamente a jornada que milhares de pinguins fazem todo mês de março durante vinte dias e vinte noites. Em busca do par perfeito, são levados pelo instinto pela busca da reprodução. Estas aves viajam enfrentando bravamente as condições extremas de sobrevivência: animais ferozes, ventos congelantes, águas frias e a própria fome.


O longa também exibe a inversão de papéis, quando os pinguins machos tem a responsabilidade de cuidar dos ovos, enquanto os pinguins fêmeas são encarregados de buscar comida nas congelantes águas do oceano, dentro de um período de 48 horas.


O retorno das fêmeas dá a largada para a marcha dos pinguins machos em busca de comida, chamada de “marcha dos famintos”. A vida em tais condições, são dependentes de vários fatores, e se algo der errado, a morte é certeira.


O filme-documentário na versão brasileira é narrado por Patrícia Pillar e Antônio Fagundes. Com trilha sonora de Emilie Simon, o longa nos leva a um mundo gelado e maravilhoso, onde sobreviver é primordial para a continuação da espécie.


Depois de assisti-lo, certamente seremos seres-humanos menos reclamões, e passaremos a enxergar de um outro modo a vida dos pinguins, sua incrível viajem, e a emocionante marcha pela sobrevivência de seus filhotes e de si mesmos.

Em Águas Irlandesas

E se você fosse um pescador irlandês, e no meio de seu trabalho, uma linda mulher fosse literalmente pescada por suas redes, o que você faria? Poizé, Syracuse (Colin Farrell) tem de lidar com tal acontecimento. Em uma de suas pescarias, ele conhece Ondine (Alicja Bachleda), uma bonita e misteriosa mulher que cai em suas redes. Rapidamente, Syracuse se vê apaixonado pela bela moça encontrada nos mares. Sua filha Anne (Alison Barry) passa a acreditar que Ondine é uma criatura mágica, vinda do oceano, uma selkie (criatura da mitologia irlandesa semelhante a uma sereia), e com o passar do tempo, Syracuse, também começa a acreditar na teoria de sua filha.

“Ondine” é uma história de amor e de esperança, um conto de fadas moderno, onde belíssimas paisagens irlandesas servem de plano de fundo para esta história, cheia de mistérios, escuridão e magia.

O longa foi escrito e dirigido pelo aclamado Neil Jordan, e fotografado por Christopher Doyle, e ainda conta com músicas da banda Islandesa Sigur Ros, que eu particularmente adoro.

Confesso que o motivo pelo qual me interessei pelo filme foi o nome de Farrell no elenco, mas no decorrer da história, a trilha sonora, o roteiro, as paisagens, as atuações, a fotografia e o clima dramático me fizeram apaixonar pelo filme.
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Um longa mágico, do ínicio ao fim. Vale a pena assistir!

Pequena Nota Sobre o Amor



Ela: Você me ama?

Ele: Sim, amo.

Ela: Qual sua explicação para me amar?

Ele (pensativo): Acho que sua forma de pensar, sua personalidade, sua beleza, seus cabelos compridos e algumas outras coisas. Por quê?



Silêncio. Não há resposta.














Momentos depois Ela levanta-se, deixando-o só na calçada. Sabia que não mais voltaria, pois acreditava que para o verdadeiro amor não havia explicação.

Atingindo os Dezoito


No último dia 1º completei dezoito anos. Confesso que sempre tive medo dessa idade, e o que parecia ser uma data tão longíqua, chegou com uma rapidez incrível. Neste dia (1 de julho) muitas amigas e amigos vieram me perguntar qual é a sensação de estar completando os famosos dezoitinhos, e finalmente estar atingindo a maioridade. A grande maioria me perguntara, porque sou uma das mais velhas do meu círculo de amizades, e da minha sala também, não porque repeti de ano, mas porque quando ingressei na escola não pude entrar logo no prezinho, tendo que passar primeiro pelo jardim II, por fazer aniversário no meio do ano. Quando ouvia tais perguntas, fiquei confusa, pois antes imaginava que quando atingisse a maioridade, estaria mais madura, mais séria, mais experiente, ou seja, pensei que seria uma adulta de verdade, como num passe de mágica, mas nada ocorreu. Dormi e acordei da mesma forma, e não senti nenhuma mudança brusca, nem nada do tipo. Sou a mesma pessoa dos dezessete, dos dezesseis, dos quinze, dos quatorze até, sou a mesma e ponto. Para mim nada mudou, contudo, eu sei que muita coisa em mim foi mudando, mudando, mudando, tão gradativamente que eu sequer pude perceber. Por isso, quando me perguntaram como eu me sentia com dezoito anos, eu não soube o que responder, apenas disse que me sentia normal, a mesma pessoa, e que ter dezoito me assustava, pois eu não me sentia como uma adulta como eu imaginava ser uma pessoa ao atingir os dezoito anos de idade.

Mesmo aos dezoito, meus gostos são os mesmos, minha paixão por gatos é a mesma, meus filmes favoritos e livros também são os mesmos. Acredito que eu estou sendo preparada para os dezoito há muito tempo, e por isso não senti uma mudança brusca. Ninguém muda bruscamente, assim de uma hora para outra, num passe de mágica onde é só tocar a varinha de condão e "pluft" ocorre a mudança. Ninguém muda ao fazer aniversário. Apesar de não perceber, sei que vivo em constante processo de metamorfose, e que minhas ideias são semelhantes, mas não são as mesmas de quando eu tinha quatorze ou quinze anos. Estou mais madura, apesar de não me sentir assim. A vida é uma escola, e eu estou em eterno processo de alfabetização, nunca conseguirei traçar um enredo, mas posso ao menos, escolher o tema de cada parágrafo, seu desenrolar já é outra história... Ter dezoito anos é simples, é uma nova translação ao sol, uma nova primavera, um ano a mais para responder quando perguntarem sua idade. Ter dezoito anos não é acordar e ver estrelinhas no teto, não é sentir-se uma borboleta livre só porque você já responde por suas ações, não... Contudo, dia primeiro de julho foi mágico, não por ter atingido a maioridade, mas pelas pessoas que estiveram comigo nesta data, e por isso foi incrível, e eu agradeço por ter atingido meus não esperados, mas muito bem-vindos dezoito anos.

Um Sorriso em Meio à Destruição


As bombas caíam, atingiam o chão, destroçavam o asfalto, as moradias, as antigas construções, os rostos espantados, os olhares assombrados, as almas.


De todos aqueles humanos assombrados, que corriam e que se escondiam nos porões, havia uma garotinha. Seus olhos sibilavam, seus cabelos arredios, sua boca pensa num sorriso sincero. Sua figura pendida no meio da destruída rua, contrastava com todo o cenário ao seu redor. Enquanto pendia ali, seu pescoço se voltava para trás, seus bracinhos seguravam uma velha boneca de pano surrado, que a mãe fizera questão de costurar, quando a menina não pudera mais deixar as dependências de sua casa.


Ficou a olhar para o céu, por intermináveis momentos. Os sons se intensificavam, sons de guerra e de destruição. Assim como os sons, os cheiros também se intensificavam. Cheiro de morte, cheiro de vida aguda e estridente, cheiro de pólvora, de terra, de sangue. Ainda sorria. Seus dentes brancos, abertos, como um último fio de esperança para aquelas terras sangrentas e desesperançosas. Usava um vestido de pano, também fabricado por sua mãe, anos antes, pouco depois do início das bombas, dos cristais quebrados, das crianças sendo arrastadas por entre os cacos, por entre a chuva fria, e o céu estrelado.


Um rapaz alto de olhos claros passou pela menina. Carregava uma arma nas mãos, e usava um capacete, que a menina imaginou como sendo um chapéu. O homem se deteve por um instante, fitou a garotinha de vestido; a menina vendo-o sorriu timidamente, seus olhos brilhavam de contentamento, enquanto as bombas continuavam a iluminar o céu. O rapaz que possuía um ferimento profundo no braço esquerdo, se aproximou da pequena, e abaixou-se. Fitou sua arma e o rosto angelical da criança. Abaixou as faces sujas de terra e sangue, e passou levemente as mãos nos cabelos empoeirados da menina.


"Onde está sua mãe?" - perguntou, sua voz não passava de um fiapo rouco, de um suspiro abafado, de uma dor.


A menina balançou a cabeça em negativa. Não sabia onde estava sua mãe, nem onde estavam todos aqueles que ela amava, mas isso não importava agora, não para ela. Eles deviam estar em casa, tomando algum caldo com os ingredientes que seu irmão mais velho encontrava pela cidade, e que cada vez eram mais escassos de encontrar.


O soldado então, sorriu para a garota, um sorriso triste e imaculado, a garota retribuiu, num sorriso que marcaria para sempre sua vida, durante os anos que viriam, até sua morte, quando ele puxaria um gatilho, não nas centenas de soldados alemães que matara, mas em si próprio, encerrando assim com sua vida. O sorriso esperançoso e inocente daquela criança, permaneceria ali para sempre, em sua memória.


Num gesto rápido, o soldado russo, levantou-se e pôs-se a correr, buscando salvar-se dos tiros, das bombas, das atrocidades, dos desesperos. Levou consigo como conforto a imagem da garota, e seus olhos negros e sibilantes. Sem perceber, uma lágrima escorreu de seus olhos, marcando sua face, em meio ao pó que havia em si.


Ainda parada no mesmo lugar em que estava, a criança continuou olhando para cima, enquanto fantasmas assombrosos, sangrando, e gritando, caminhavam, cortando o ar. Uma mulher caiu perto da garota, e vendo-a, num último suspiro, imaginou estar nas dependências imaculadas, na casa divina que imaginava ser o céu. Vendo o sorriso brilhante e a esperança de vida que a menina carregava em si, morreu tranquilamente, com a certeza de que veria seu pequeno, nos próximos instantes.


Um som estridente cortou o local. Homens, mulheres e crianças caíram, todos mortos. A bomba fez uma curva no céu escuro, para depois estourar próximo da garota.


O soldado russo que caminhava lentamente pelas proximidades ao ouvir o som da destruição, retornou, correndo, desesperado. Procurou por toda a parte a garotinha, parada a olhar para o céu, mas não a encontrou. Seus joelhos fraquejaram e ele então ajoelhou-se no chão de cacos, e ao fitar o chão, avistou o vestido colorido da menina. Mais que depressa, o soldado correu, em sua direção, e ao agachar-se perto dela, percebeu que sua alma não estava mais ali, que o vento fizera questão de levar. Ela estava morta, os olhinhos fechados, as mãozinhas ainda quentes segurando a boneca de pano. Estava a dormir com a eternidade. Ele chorou, enquanto seu grito mudo se propagava com o vento. Levantou-se, e carregou o corpo da menina pelos próximos quilômetros, enquanto deixava toda a dor e destruição para trás. Depositou seu corpinho juntamente com sua boneca, perto de uma única árvore, que ostentava-se cinzenta em meio à destruição.


Lentamente ele seguiu seu caminho, imaginando o motivo pelo qual a garotinha sorria docemente em meio à tanta destruição e dor. Ele se questionou durante toda a vida, mas nunca obteve a resposta. O soldado russo, jamais pôde saber que a garotinha dos cabelos empoeirados, do olhar brilhante e do vestido colorido sorria, pois para ela, as luzes destrutivas que cortavam o céu eram fogos de artifício. E para aquela criança, parada na rua de Berlim, em 1945, aquelas bombas seriam para sempre fogos de artifício.

Espírito Copalino


É incrível como o brasileiro tem uma profunda admiração por futebol, admiração ou fanatismo, pode chamar este espírito súbito nacionalista do que quiser, sinta-se a vontade. Mas, vamos prosseguir no assunto: brasileiro possui um mais alto grau de espírito copalino. (Copalino, provém de Copa do Mundo, ou do latim de Natal, com natalino, junta-se com o grego, resulta em Copalino, e blá blá blá). Sem filosofias baratas, ou ortografias gregas, vamos direto ao ponto: Brasileiro só é brasileiro na Copa do Mundo, e tenho dito. É na Copa que todo mundo quer cantar o hino, que todo mundo veste camisas da cor da bandeira, e até desenterram aquela bandeirinha mofada no fundo da gaveta que usou na Copa de quatro anos atrás.


Pude comprovar isto depois da escola, voltando para casa, quando me deparei com umas 4324234 pessoas trajadas especialmente para assistir o Mundial. Todos muito verdinhos e amarelinhos, ostentando um "Brasil" em letras garrafais no peito, com direito até a orgulho de ter nascido em terras tupiniquins. É nessa hora que brasileiro canta que é brasileiro com muito orgulho e com muito amor.


Se tudo isso ocorre antes da partida, como uma preparação para o jogo propriamente dito, no início da partida a situação "piora", e piora elevando-se ao cubo. Primeiramente vem os infernais fogos, que são verdadeiras poluições sonoras, e que ainda não descobri para que servem. Depois, surgem as buzinas, e agora as chamadas "vuvuzelas" que já viraram símbolo da Copa da África do Sul. Além de todos estes fatores, quando é jogo da seleção canarinha, comércio não abre. Trabalhadores voltam para casa, e se o patrão não dispensar, é briga, na certa, com direito a processo jurídico e tudo. É obrigação assistir ao jogo. Fico imaginando se um cidadão por infelicidade infarta vendo o Brasil jogar, como é que fica? Morre, na certa. Porque duvido até que o hospital funcione em dias de jogo.


"Tem gente infartando? Porra. Já falei Margareth que só é pra me chamar em caso de urgência, não tá vendo que eu to aqui assistindo a Copa?" - diz o médico irritado.


É meus caros, Brasil é assim, Carnaval e Copa do Mundo, o país pára, sofre um dramático pause, e só volta a funcionar dez dias depois que termina um desses dois acontecimentos, quando alguém resolve apertar o play.


Nacionalismo? Só em dias de Copa. Brasileiro usa jeans, come no McDonald's, ouve Black Eye Peas, e toma Coca Cola, mas o patriotismo está no sangue no Mundial, só no Mundial, não se esqueçam. Depois de dez dias do fim da Copa do Mundo, brasileiro volta a sua vida normal, esconde sua camiseta verde e amarela, guarda a bandeirinha meio rasgada, vota em branco nas eleições, acata os políticos de direita, adota o conformismo como meio de vida, e joga o nacionalismo fora, na primeira lata de lixo que encontrar.


Uma pequena nota:


A autora do post vestiu camisa verde e amarela, assistiu ao jogo, chorou ao ouvir o hino nacional, e torceu loucamente pelo Brasil, se contentando com uma vitória de 2 x 1 em cima da Coréia do Norte. Porra, ela também é brasileira, e segue a regra com afinco e espírito copalino.



Adentrando o Universo Masculino

Rob é um cara que vive em Londres, tem trinta e cinco anos e ama música pop. Primordialmente é isso o que todos nós devemos saber sobre ele: ele ama música pop. Música está em sua essência, em suas estantes, em sua mente. Rob é tão apaixonado por música, que largou a faculdade para viver dela. Ele vende música, no sentido literal da palavra. Rob Flemming é dono de uma loja de discos.
Além da música, o londrino tem outra, digamos, mania: fazer lista das 5 melhores ou piores coisas de todos os tempos (ex: lista das melhores músicas do lado B do disco de Johnny Cash, lista dos melhores livros, etc). Rob ama listas, e aprendeu a fazê-las com seus dois amigos: Dick e Barry, que trabalham em sua modesta loja de vinyl, frequentada por uns poucos, porém assíduos, clientes.


Tanto Rob, como Dick ou Barry, são personagens da obra-prima de Nick Hornby: Alta Fidelidade, livro este que retrata as neuras, as dúvidas, as angústias, as inseguranças, o medo do compromisso e as encanações sobre sexo, além de conter vários outros tópicos do universo masculino. Mas, se engana quem pensa que é só um livro para machos. O livro agrada mocinhos e moçoilas, e te faz viajar por entre prateleiras de discos, por entre os bares de Londres, e pela vida do encantador Flemming, que logo de início recebe um pé na bunda de sua namorada Laura. Contudo, Rob não permite que esta separação seja em vão: corre para fazer uma lista de suas cinco piores separações de todos os tempos, lista esta que podemos conferir logo na primeira página do romance.


Neste universo masculino, de cigarros, música alta e amores, Rob se sente na "obrigação" de reviver seu passado, se quiser reconquistar sua amada Laura. E é nesta jornada que Hornby nos leva, fazendo-nos adentrar pelos pensamentos de Flemming, em suas loucuras e neuras, enquanto caminhamos e curtimos um som, em sua decadente loja de vinys londrina.

O romance também foi parar nas telonas, e vale a pena ser conferido. John Cusack está na pele de Rob e Jack Black dá vida ao rabugento Barry. O longa também conta com a atuação de Catherine Zeta-Jones, que vive Charlie Nicholson, ex-namorada de Rob.

Alta Fidelidade é para todos aqueles que essencialmente amam música, e que principalmente apreciam um bom livro.

Adormecido


A água
O vento
Cimento
Relento
A poeira
O tempo
As solas
Pisando
Sapatos
De Ingratos
Íngremes Pedras
Olhares vazios
E solidão
Na escuridão
Com sua trovoada
Batendo
Impiedosamente
No homem
Adormecido
Sobre a
Calçada.

4ª Bienal do Livro de São José do Rio Preto


Está sendo realizada em São José do Rio Preto, a 4ª Bienal do Livro, que vai do dia 30 de abril, ao dia 9 de maio. A Bienal que marca presença na Swift, localizada perto da Represa Municipal, conta com palestras, exposições, amostras de cinema, e a presença de muitos artistas literários.

No último domingo, fui conferir a Bienal, e logo de cara vi que neste ano a organização da maior feira literária do Noroeste paulista supera, e muito, a do ano passado, que foi realizada na Biblioteca Municipal, um lugar menor, menos arejado, e sem os eventos que estão sendo realizados este ano.

Logo que cheguei na Swift, caminhei um pouco pelas
stands de livros, e para meu agrado encontrei vários clássicos da Língua Portuguesa a preço de banana, literalmente. Acabei comprando a obra Dom Casmurro, do grande Machado, por apenas (imaginem só!) R$ 3,00. Apenas, três contos, minha gente! Fiquei ultra feliz, e carreguei meu livro de capa estampada com os olhos oblíquos de Capitu, até o início da Palavra em Cena, com a presença de Antônio Calloni, e a leitura de poemas feita pelo próprio.


No horário marcado fui até o espaço reservado para a palestra. O salão já estava lotado, e consegui sentar em uma das últimas cadeiras. Logo em seguida, o ator e poeta Calloni, entrou no recinto, sentou-se numa cadeira colocada em cima do palco, e fez a leitura dramática de diversos poemas de sua autoria. Vários temas foram abordados, dentre eles: o universo infantil, a maternidade, a própria poesia, e claro, o amor.


A palestra durou cerca de quarenta minutos, e logo após, houve uma entrevista com o palestrante, e uma bateria de perguntas feitas pela platéia. Assim que a Palavra em Cena chegou ao fim, fui correndo até Antônio Calloni, a fim de conseguir um autógrafo ou foto. Eu era a última da fila, e tinha em mente uma pergunta sobre o filme Anjos do Sol, filme este que revelou Calloni para mim, como um dos grandes atores brasileiros.

A fila andou, e minha vez chegou. Câmera numa mão, papel e caneta em outra, e uma pergunta formulada, reformulada e mastigada diversas vezes em minha mente. Distrai-me um pouco, e quando o vejo, ele estava indo embora com uma mochila nas costas. Pedi uma foto, enquanto agitava a câmera no ar, e ele, muito simpático, atendeu meu pedido, tirou uma foto comigo, e com meus amigos, e ainda autografou minha agenda. Cheia de alegria, me esqueci da pergunta, e fiquei ali parada, esperando uma nova Bienal, para uma nova palestra com o grande ator, e poeta Calloni.

Além da presença de Calloni, a 4ª edição da Bienal do Livro, contará com a presença de Pedro Bandeira, hoje à noite às 19:00 hrs, Augusto Cury amanhã, Professor Pasquale Cipro Neto na quinta, Moacyr Scliar na sexta-feira, e no sábado Zé do Caixão e Mário Prata, além de muitos outros. Para conferir a programação completa da 4ª Bienal do Livro em São José do Rio Preto, acesse: http://www.bienalriopreto.com/

Vale a pena também dar uma olhada no site de Antônio Calloni: http://www.antoniocalloni.com/
Confira, e boa leitura!

Obra-Prima Brazuca

Hoje assisti ao filme brazuca: "Mauá - O Imperador e o Rei". O longa foi lançado em 1999, e conta com a direção de Sérgio Rezende, sendo uma obra-prima do cinema nacional.


Abordando importantes fatos históricos, como: a implantação da Tarifa Alves Branco, O Segundo Império, a Lei Eusébio de Queirós que aboliu o tráfico negreiro, a Guerra do Paraguai e do Uruguai, Paulo Betti no papel do protagonista - O Barão de Mauá, nos leva a uma viagem de volta ao passado, num Brasil Imperial, de escravos, café e Absolutismo.


O filme conta a história de Irineu Evangelista de Souza, que mais tarde, ficaria conhecido como Barão de Mauá, passando por sua infância, juventude, enriquecimento e falência.


Logo no início da trama, Mauá ainda criança, tem de se mudar para o Rio de Janeiro, devido a morte de seu pai, e ao casamento de sua mãe com outro homem. Indo morar com seu tio, Mauá passa a trabalhar de caixeiro, mantendo um relacionamento amigável com os escravos de seu patrão. Ainda jovem, adquire uma postura abolucionista, recusando-se a adquirir escravos, e mostrando-se favorável a lei Bill Aberdeen, criada na Inglaterra, que visava encerrar com o tráfico negreiro.


Considerado o primeiro grande empresário brasileiro, o liberalista Mauá, possuia a simpatia de alguns, e a antipatia de outros, como D. Pedro II. Arrojado em suas ideias, o Barão visava trazer o progresso para o Brasil, com a implantação de ferrovias que ligassem os estados, e garantissem o transporte de mercadorias, a industrialização, a produção de navios, comunicações telegráficas e bancos.


Ainda jovem, casa-se com sua sobrinha May (Mallu Mader), com quem teria doze filhos. Morre vítima da diabetes, aos 74 anos de idade, poucas semanas antes da Proclamação da República, após ter quitado todas suas dívidas.


O filme é um retrato brasileiro do século XIX, e conta um um belíssimo cenário, trazendo cenas no Rio de Janeiro e na Inglaterra, e explorando diversos fatos que fazem parte da História do Brasil.


Uma genial obra-prima, tanto para estudo, como para apreciação. Vale a pena assistir!

Coisas Sem Explicação


Eu não sei o que levou-me a me apaixonar por você. Talvez seja o fato de que seus negros olhos permitem que eu me enxergue no fundo de suas íris imaculadas. Pelo fato de que seu timbre me faz bem, que sua saliva tem um bom gosto e suas mãos um excitante toque. Talvez seja por todas estas coisas juntas, talvez não. Sinceramente não sei. Não sei porque tu me arranhas, me assanha, me mata e me renasce tantas vezes. Não sei porque. Mas só com você me sinto plena, serena, selvagem, menina e mulher. Minhas pernas tremem, me amoleço, me aqueço. E quando tu me perguntas porque te amo, eu rio, porque não sei. Não sei explicar. Acho que para essas coisas, a gente não acha explicação. Essas coisas a gente não se explica, simplismente sente, agudamente, no fundo da alma, palpitante, intensamente.
Então calo-me, mas não se preocupe comigo, é apenas um modo de ouvir o silêncio falar por nós, de ouvir sua respiração, e o vento arrastando as folhas frias pelas calçadas de concreto. O silêncio se faz tão puro, que as palavras tornam-se irrelevantes. Ouço-te neste silêncio intenso. E é nessa intensidade que vou vivendo, sentindo-te. Encontrando na nossa imperfeição, o perfeito. Remendando tantos medos, rasgando tantos breus, tantos tu's e tantos eu's. Seguindo lentamente, por entre sombras, e sóis, enquanto olho-te de perto, e seus olhos se borram, e seus lábios se abrem e sorriem.


Não sei explicar. Sinceramente não sei. Mas, acredito que essas coisas, a gente acaba chamando de amor.

Definições Vãs


Sou petulante, birrenta, metida e chata demais. Tenho um rei na barriga, e mais duas rainhas. Gosto de achocolatado quente ou frio, dependendo do meu humor. Prefiro o confortável ao elegante, por isso sou a favor do uso de tênis, não de saltos. Ando olhando para o céu, talvez porque meu mundo seja a lua. Se eu me desse bem com a matemática e a física, seria astrônoma. Sou de julho, canceriana chorona, dramática e sentimental. Não sei fazer amigos. Não sou boa de papo. Sou apaixonada pelo diferente, pelo inusitado. Gosto de tomar água e comer arroz. Sou mais xamãs que médicos. Prefiro terra a asfalto. Tomo chuva sempre que posso. Conto as estrelas sempre que as nuvens permitem. Sou complicada. Costumo encontrar a perfeição no imperfeito, no rasurado; lá estão minhas palavras rabiscadas à tinta. Sou boazinha demais, mas não abuse, ou verá meu outro eu. Prefiro os vilões, mas sempre torço pros mocinhos no fim. Não sou hippie, nem roqueira, nem indie. Sinceramente nunca consegui me identificar plenamente com quaisquer grupos, nunca consegui me entender.

Às vezes sofro comigo mesma. Sou meu maior orgulho, e minha maior decepção também. Sou insegura, mas algumas vezes posso me achar a dona da vez. Sou contraditória. Leio ficção. Gosto de Beatles, Nirvana, Hole, Sigur Ros, Radiohead, Chico Buarque e Lady Gaga.

Sou complexa, mas posso parecer tão simples. Um dia viajarei para a Amazônia., tomarei tequila até desmaiar, publicarei um livro e comprarei uma guitarra Les Paul. Um dia comprarei e lerei Cosmos (quando voltarem a editá-lo). Um dia irei a um show de folk-metal... Farei isso, se tudo der certo.

Tudo o que eu já fui me interessa, e muito, porque o que sou deriva do que fui. E o que sou? Não sei. E o que fui? Também não sei, e sinceramente prefiro não saber. Fui tantas coisas, tantos nadas e tantos tudos. Tão moderna e tão antiquada. Isto ainda sou, por enquanto, já que sou total desconhecedora do próximo instante. E é por isto que acho a vida tão fantástica: ela é uma caixinha de surpresas. Ela é miraculosa, e o miraculoso me atrai.
Pareço tranquila, mas sou um turbilhão, feroz. Sou inconstante. Escrevo textos, e depois rasgo-os e jogo-os fora. Nunca parecem tão bons naquele instante, mas se os guardo até o dia seguinte, eles se transformam num bom texto. Falo palavrões e gosto dos Beatniks. Chega. Parerei. Estou enjoada de mim. Assumo. Sou uma garota de limites, ou pelo menos tento ser. Gosto de falar de mim. Síndrome de piseudo-escritor egocêntrico, anti-reforma ortográfica. Enjoei. Vou me esfacelar. Até mais. Defini vagamente, porque penso que sei algo, mas na real, não sei nada.


De mim para mim.


Escrito à moda antiga, com tremas e chorumelas, numa noite obscura e confusa, ao som do silêncio.

O Trovador Solitário



Há exatos cinquenta anos, nascia no Rio de Janeiro, Renato Manfredini Júnior, mais conhecido como Renato Russo. Um trovador solitário, poeta e líder de uma das maiores bandas brasileiras: Legião Urbana.

Na infância, era conheItálicocido como Juninho. Garoto introvertido, que rabiscava com Giz. Nos tempos da ditadura militar, mudou-se para Brasília, e encantou-se por ela. Comoçou a ter aulas de violão na adolescência e tornou-se líder da "Fordy Second Street Band", que por sinal, era aclamada pelo sucesso, e também era imaginária.

Ao completar dezoito anos, Renato assume sua homossexualidade. Algum tempo depois, começa a lecionar Inglês, e a cursar Jornalismo. E em 1978, funda sua primeira banda real: Aborto Elétrico. Inicialmente tocava baixo, mas quando André Pretorius, até então guitarrista da banda, foi prestar serviço militar na África do Sul, Renato troca o baixo pela guitarra. E nesta mesma época de "punk elétrico" foram compostos os hits Que País é Esse? e Geração Coca-Cola, tornando-se hinos de uma geração revolucionária.

A banda de punk-rock, Aborto Elétrico, foi "abortada" em 1982, devido a desentendimentos entre seus integrantes e por uma baqueta atirada pelo baterista da banda. Fê Lemos, Ico Ouro-Preto, Flávio Lemos e Renato Russo, inspiraram o surgimento de várias bandas, dentre elas destacam-se: Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude.

Com o fim da banda Aborto Elétrico, Renato Russo, começa a fazer aprensentações solo, se auto-denominando como "Trovador Solitário". Mas esta solidão musical durou pouco tempo. E como Renato queria mesmo era formar uma nova banda, em 1982 nascia a Legião Urbana.

Com treze álbuns lançados, e mais de vinte milhões de discos vendidos, a banda Legião Urbana, foi uma das bandas brasileiras que alcançaram um maior sucesso. Inspirado nos Smiths, Cure e Joy Division, Renato compunha as canções da Legião.

A formação original da banda, até então, não apresentava o renomado Dado Villa-Lobos na guitarra. Dado passou a integrar a banda em apenas 1983, com a saída de Eduardo Paraná, e logo depois de Ico Ouro-Preto, irmão de Dinho Ouro-Preto. A última e mais conhecida formação da banda de Renato Russo, traz o mesmo como violonista, tecladista, baixista e vocalista, Dado Villa-Lobos na guitarra, violão, além de alguns instrumentos de percurssão, e Marcelo Bonfá, baterista e percussionista.

A banda atingiu seu ápice em 1988, após o lançamento de hits como: Eduardo e Mônica, Índios, Quase sem Querer, Faroeste Caboclo e Angra dos Reis. Em 1989, vieram novos hits, como Pais e Filhos e Monte Castelo. Neste mesmo ano, Renato tornou-se pai de Giuliano, fruto de uma relação com uma fã.

Em 1991, lançou o disco V, e descobriu ser soropositivo. Num momento complicado de sua vida, o músico enfrentou problemas com o alcoolismo, e na relação com o namorado americano. Depois de um disco melancólico, Renato iniciou seu tratamento para se livrar da dependência química. No disco de 1993, O Descobrimento do Brasil, os sentimentos se mesclam e se confundem, trazendo fortes críticas, e sendo considerado por muitos fãs, um álbum delicado.

Nos últimos anos de vida, Renato produziu compulsivamente. Lançou discos solos em outros idiomas, entre eles o italiano, que o músico disse ter se identificado rapidamente, pelo estilo melódico. Em 1995, a Legião faz seu último concerto, e três meses antes de morrer, Renato grava o disco Tempestade, trazendo densas músicas como 1° de Julho e Via-Láctea.

"Era muito triste e trágico, perceber que aquela pessoa estava indo embora para sempre, e aquela pessoa justamente, que traçou seu rumo e que tem uma influência muito grande no que você faz e no que você é hoje", comenta com saudades, o amigo e guitarrista, Villa-Lobos, sobre o estado debilitado que passou Renato, ao enfrentar a aids.

Em 1996, aos 36 anos, o talentoso poeta e músico, expira. Deixando-nos órfãs de sua voz grave, de suas letras repletas de poesia, e de seu grandioso talento.

Renato se foi, mas nos deixou um acervo maravilhoso de canções, e além delas, deixou-nos seu legado, de honestidade e principalmente de amor. Pois Renato, mais que ninguém, sabia que só a verdade liberta, e que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se pararmos pra pensar, na verdade não há...

Você e Eu

Seus olhos eram um abismo profudo. Tão negros, que num descuido, eu poderia me afogar. Seu cheiro, uma mistura eloquente, de almíscar, desejo e âmbar. Nos entrelaçávamos, entre medos e anseios. Nos abraçávamos, pele morna, entre beijos. Seus grossos fios de cabelos, enroscavam-se nos meus. Não havia nada além de nós, apenas estrelas e breus. A lua cintilava, angustiante, dependurada sobre o céu. Por entre árvores esvoaçantes, pontos brilhantes cortavam em rajadas cadentes e sibilantes, iluminando, em meio-lume a poeirenta estrada. Estávamos ali. Éramos dois, éramos um. Uma porção de uns. Apenas dois. Sentia sua respiração ofegante em meus pescoço, seus gemidos contidos em alvoroço, sua mão insaciável por me percorrer. Havia beleza estridente, gritante, entre atos e não hiatos, entre carícias e respirações.
Rapidamente, se desprendeu de mim. Tão abrupto, tão confuso, sentou-se. Eu o olhei, e pela primeira vez não tive medo, e me afoguei em seus olhos. Não houve nada. Apenas silêncio e afogamento. Não houve misericórdia nem salvamentos. E eu morri ali, naqueles olhos que me afogaram, entre poros que se dilataram, e gostas de suor que me molharam. Morri ali. Naquele instante, entre a lua e os arvoredos, entre poeiras e breus. Um só. Você e eu.

Sem Cortinas ou Guarda-Chuvas


Pessoas precavidas não me atraem. Jorro isso aqui, sem o menor pudor, porque minha mente está embaralhada, estou suando devido ao calor, e tenho uma caneca de leite ao lado, com achocolatado e muito açúcar, claro. Me refiro a elas (às pessoas precavidas) porque é fácil se deparar com elas. É preciso cuidado para não se tornar uma delas.

As pessoas precavidas, costumam puxar as cortinas para tapar o sol, comprar guarda-chuvas quando começa a respingar. Costumam conter o choro quando precisam chorar, e segurar o riso quando é necessário sorrir. Pessoas precavidas tendem a tomar precauções para com a vida, porém estão enganadas. Não há precauções para se tomar com a vida. A vida não pode ser tapada com cortinas, nem avisa quando vai respingar para que se possa comprar um guarda-chuva novo. Muito menos, manda previsões de choro ou riso. A vida é pura. Não dá pra ser cuidadoso com ela. Não há tempo para se tomar precauções. Ou se vive, ou não se vive. Ou se mergulha, enfrentando adversidades e alegrias, ou se bóia, no meio termo, meio-vivo.

Já dizia Charles Chaplin que assim como a morte, a vida é inevitável. Gosto de sentir esse cheiro de roda viva que é a vida. Gosto do gosto de chuva, de me molhar, do sol queimando minha pele e fazendo arder meus olhos. Gosto do gosto que a vida tem.

Também gosto das pessoas eloquentes, que gritam, que são rejeitadas pelas pessoas antiquadas (e precavidas), que não tem medo da vida. Estas são as mais confiáveis. Porque elas tem medo, mas além do medo, elas possuem o medo de sentirem medo, e assumem, e isto é o mais fascinante. São inusitadas, e surpreendentes. Choram quando menos se espera, assumem seus sentimentos sem nenhuma restrição, sem precisar ler manuais ou livros de auto-ajuda (com exceção de alguns, lógico), e principalmente, rejeitam qualquer tipo de julgamento.

A vida foi dada a cada um, não para que a guardemos num frasco de vidro para vivê-la amanhã. É impossível preservá-la de modo que possa ser vivida mais tarde. Ela é este segundo, é este já, é o momento que já passou, e o que está passando.

Portanto, não feche as cortinas para ela. Vamos abri-las e encarar todas suas intempéries e emoções, vamos chorar e rir, unicamente, puramente, sem restrições, pois só assim estaremos saboreando-a, sugando-a, mordendo-a apetitosamente, de modo que ao chegarmos em seu fim, olharemos para traz e nos sentiremos saciados e orgulhosos da intensidade que se vive a vida, quando se deixa de lado os guarda-chuvas e cortinas.

Thank u


Queria agradecer pelo selo que recebi da Juliana, dona do blog lindo (momentolala.blogspot.com). Muito obrigada Ju, pelo selo de Master Blog, e por me recrutar novamente na sua lista de blogs favoritos. Sinto-me honrada.
Para mim, o que não tem preço?
As coisas essenciais da vida não tem preço. Pessoas que amo. Sentimentos únicos. Momentos únicos.

E os meus recrutados são os mesmos do post "Award..." do dia 2 de março.
See ya!

Um Flerte com o Universo

Cosmos

O que eu fora em tanto tempo
Pó de estrelas nas partículas de momento
No elíptico movimento
Na imensidão do tempo?

Serão outros mundos a esvaecer
Do brilho imerso em luz solar
De estrelas oblíquas a esmorecer
Que mortas insistem em brilhar?

Teus assombros desmedidos entre nebulosas
Em pontos lúgubres de distância
Formando tuas formas miraculosas
Humanos planetas em sua ânsia

Pontos infindos, regem a canção espacial
Nas profundezas do cosmo
Ruge a pulsação universal.




Foto: A Nebulosa Flame. À direita, uma região de formação de estrelas.
Fonte: NASA.gov

Award...


Tive uma surpresa hoje. Uma baita surpresa, diga-se de passagem. E ela é esta aí, que está estampando o post: o selo de "Beautiful Blogger". O primeiro "award" de Anjo do Pó, por sinal. E é com muita alegria que recebo-o. Muito grata à Juliana, escritora do blog Momento Lala (http://www.momentolala.blogspot.com). É bom saber, que existem pessoas que leem e gostam deste blog. Muito obrigada Ju, pela indicação, e principalmente pela força que você sempre prestou ao blog Anjo do Pó.

Arregaçando as mangas...

7 coisas sobre mim:

1. Tenho 17 anos, e pretendo cursar História ou Jornalismo;
2. Escrevo desde os 12;
3. Me apaixonei pelas palavras depois de muito ler Paulo Coelho, e seus livros, considerados "livros de auto-ajuda";
4. Sou contraditária;
5. Sou antiquada demais;
6. O diferente e o inusitado sempre me atraíram muito;
7. Meu sonho é mochilar por aí, e um dia conhecer a Islândia.

7 blogs merecedores do selo (alguns não são blogs de literatura, mas eu recomendo) :

http://www.vinividivincivinci.blogspot.com
http://www.killing-travis.blogspot.com
http://www.tylerbazz.blogspot.com
http://www.lelearantes.blogspot.com
http://www.cinemacultura.blogspot.com
http://www.calicevertido.blogspot.com
http://www.arapongasrockmotor.blogspot.com


Yeah!

Admiração pelos Cocares


Desde minha infância nutro uma paixão pelos índios. Os cocares, flautas, música, pinturas corporais, rituais, pajés, curandeiros sempre me atraíram muito. Resumindo: a cultura indígena em geral sempre me atraiu muito. Lembro-me de uma vez quando fui com minha mãe comprar alguns mantimentos num pequeno mercadinho perto de casa, devia ter no máximo uns cinco anos, e me deparei com um caderno em espiral, estampado com o rosto de um índio brasileiro. Acabei levando o caderno pra casa, meu primeiro caderno que faço questão de guardá-lo até hoje.
E foi motivada por esta paixão indígena, que comecei a estudar flauta, com o intuito de um dia tocar flauta wasusu, sararé, ou quaisquer outros instrumentos indígenas. Até hoje não aprendi, mas não perdi as esperanças.
Motivada por essa onda tupi-guarani, ao completar seis anos, no ano de 1998, tornei-me fã assídua, juntamente com minha mãe, do grupo amazonense Carrapicho, que estourou nesta mesma época, com sucessos relevantes, dentre eles: Rogai por Boi, Mundurukânia, Festa de um Povo e Tic Tic Tac, música escolhida para dançarmos na festa de fim de ano da pré-escola, para minha alegria. Lembro-me de que naquela época os cd's ainda eram pouco comuns, e mp3 nem sonhávamos que um dia pudessem existir, muito menos downloads de músicas. Ouvíamos as músicas por meio de fitas (sabe, aquelas que possuíam lado A e lado B, e que vez por outra se enroscavam no compartimento do aparelho de som), estas fitas sim faziam minha alegria, especialmente a fita da Festa do Boi Bumbá do Grupo Carrapicho.
Por meio destas músicas, minha paixão pelos "pele-vermelhas", aumentou. Meu sonho era visitar a Amazônia, ou melhor, morar na Amazônia. Minha vontade era de usar cocares, pintar o rosto, ter cabelos lisos e negros e a pele mais morena. Então, comecei a procurar na minha árvore genealógica, algum indício indígena na família. Acabei por classificar meu bisavô materno como indígena, por ele ter alguns traços tupi-guaranis. A partir daí, a minha maior alegria foi poder falar aos quatro ventos que eu tinha sangue indígena correndo nas veias.
Depois de algum tempo, quando já estava na pré-adolescência, envolvida pelas lembranças de filmes americanos antigos, filmes que relatavam a vida de seus nativos e filmes de faroeste, passei a me dedicar mais aos índios americanos: os Sioux, Apaches, Chippewas, Choctaw e Cheyennes. Comecei a apreciar os longos cabelos negros, com penas a enfeitá-los, roupas de couro, sapatos de couro, águias, xamãns, rituais e costumes dos nativos americanos.
Com o passar do tempo e levada pela moda, virei adepta dos brincos de pena. Mais pela admiração que nutria pelos índios do que pela moda. Em seguida, comecei a estudar na escola a história dos Maias, Incas, Astecas e mais adiante dos nativos americanos. E nas palavras de Leandro Karnal e tantos outros historiadores, defrontei-me com as atrocidades cometidas pelos brancos contra eles. Opressão, genocídio, etnocídio, assassinatos. Numa luta desigual. Flechas contra armas de fogo. Inocência contra ganância. Tornei-me então, uma pseudo-indígena revoltada.
E em todos estes anos que se seguiram, mantive em mim uma grande admiração e respeito para com os povos indígenas e sua cultura. Ninguém é obrigado a admirá-los, mas todos nós como brasileiros, descendentes do sangue indígena, e do deus nativo Tupã, temos no mínimo, a obrigação de respeitá-los.
Reacender uma admiração tão antiga me levou a criar este post no blog. Descobri que há muito mais de índigena em mim do que esperava encontrar. Não em sangue, mas sim, no coração.

Entre as Vísceras do Realismo


Periodicamente visito a Biblioteca Municipal de minha cidade. E como consequência destas visitas, sempre acabo pegando emprestado dois livros trazidos de lá, no mínimo. A biblioteca é ampla, possui várias estantes de ferro, e um computador um tanto surrado, porém muito útil, para ajudar os visitantes nas pesquisas de autores e livros existentes ali. Contudo, ainda acredito ser uma pequena biblioteca, se comparada ao tamanho da cidade, e aos quatrocentos e tantos mil habitantes que aqui residem.
Na última quarta-feira, enquanto a chuva resolvia dar uma trégua por essas bandas, depois de ter enlameado as principais avenidas e o terminal rodoviário, resolvi "dar uma passada" por lá, para devolver duas obras: uma de Bataille e outra de Leminski. Para manter o bom costume de sempre levar um livro pra casa, fui caçando pelas prateleiras outros volumes que pudessem ser tão atraentes quanto os outros dois que eu estava devolvendo. Parei em frente à prateleira de "novas aquisições", como sempre faço, e fiquei a olhar para os novos livros adquiridos. Raramente pego emprestado algum destes, já que dificilmente chego até a biblioteca sem ter em mente alguma obra específica para ler, embora, algumas vezes eu não encontre a obra esperada por estar emprestada ou por não haver ali, já que o local vive de doações de autores, população e políticos. Desta forma, há alguns meses atrás, não pude encontrar On The Road na minha primeira busca pelas mesmas prateleiras de claro cinza. Nenhuma obra de Jack Kerouac. Nada. Até que encomendei numa livraria, e então pude lê-lo tranquilamente, enquanto saboreava a genialidade da era Beatnik. Mas, não nos detenhamos em antigos episódios, vamos direto para a quarta-feira não chuvosa, enquanto eu me detinha para observar os livros recém adquiridos.
Estava a fitar os novos volumes, quando me deparei novamente com uma obra que pela segunda vez me chamou a atenção. A capa um tanto sugestiva, trazia a gravura de uma cabeça de porco dependurada sobre uma espécia de corpo humano e na lateral esquerda a cabeça de um cão. Ana Paula Maia, pude ler em letras rosas na capa do livro. Até então desconhecida para mim. Até então...
Mal pude esperar para chegar em casa e lê-lo. Na contra-capa do livro, havia algumas informações referentes a autora, e uma foto da mesma, além de um endereço de seu blog. Assim que conectei-me a internet, digitei na barra de endereços http://www.killing-travis.blogspot.com e li "Puta Natal". Achei-o genial. Humor negro. Humor cinza. Humor sem cor, e ao mesmo tempo transgressor, que nos faz prender a atenção do início até o fim. Logo em seguida, desliguei o computador e corri para o livro, devorando suas 158 páginas em apenas um dia.
Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos, é um livro que dispensa categorias, mas que poderia muito bem ser denominado de realismo visceral. Suas duas novelas contidas nas 158 páginas, se entrelaçam e se passam no mesmo local fétido, calorento e imundo, onde a vida humana tem pouco valor. Seus personagens, são homens que sobrevivem de abater porcos, recolher lixo, quebrar asfalto e desentupir fossas e esgotos. São homens que aprenderam a trabalhar, sem questionar. Trabalhar e gastar o dinheiro do trabalho em rinhas de cachorros. Homens estes que executam trabalhos pouco valorizados, mas de extrema importância.
Na segunda novela, denominada Trabalho Sujo dos Outros, Ana Paula Maia nos exibe uma sociedade onde coletores de lixo entram em greve, e temos de lidar com o lixo que produzimos, com os abutres que tentam se apoderar da sujeira, com as doenças trazidas por ratazanas, e com toda a pestilência que o lixo amotinado pelas calçadas e asfaltos nos traz. Num mundo onde a produção de lixo tem aumentado a cada dia, somos levados a uma profunda reflexão sobre nossas ações perante o planeta que vivemos. E é entrelinhas, que a nova e genial escritora brasileira, nos aponta tais questões. A partir destas duas novelas narradas em tom naturalista Ana Paula Maia nos leva a refletir em meio a ao cheiro de tripas e baratas de esgoto, regadas ao sangue, na medida de Tarantino.
Um livro que deixa marcas e rastros. Um livro ímpar, que transpassa a base das palavras, e nos leva ao mundo das sensações, onde o cheiro se infiltrará pelas narinas até a última página.

Tamborilando Sonos e Sonhos


Estou sentada. Ouço os pingos de chuva que insistentemente batem em minha janela. Tamborilando. Enchendo-me de ecos, e breus. Prego meus olhos nos olhos negros da fotografia, olhos estes que são teus. Respiro. As gotas parecem aumentar compassadamente. Som do céu. Som do som. Inspiro. Tenho frio. Tremo sob um fino cobertor cheirando a mofo e a perfume barato. O relógio descompassa o compasso do som. Agora, entro em transe, caminho para o estupor. Meu contentamento arrasta indícios de minha dor. Olho para o lado, e fito-me longamente no espelho. Sou uma estranha para mim. Tenho olhos feito borrões, cabelos desgrenhados e um olhar de sono. Miro o celular. Nenhuma chamada perdida. Nenhum recado guardado. Nenhum souvenir de tua voz. Então viro para o outro lado. Colo minha face na fria cama, e adormeço. Sono, enquanto sonho que te amo, enquanto os pingos batem incessantemente na janela, enquanto descubro não ser sonho, o sonho de te amar.