Coisas Sem Explicação


Eu não sei o que levou-me a me apaixonar por você. Talvez seja o fato de que seus negros olhos permitem que eu me enxergue no fundo de suas íris imaculadas. Pelo fato de que seu timbre me faz bem, que sua saliva tem um bom gosto e suas mãos um excitante toque. Talvez seja por todas estas coisas juntas, talvez não. Sinceramente não sei. Não sei porque tu me arranhas, me assanha, me mata e me renasce tantas vezes. Não sei porque. Mas só com você me sinto plena, serena, selvagem, menina e mulher. Minhas pernas tremem, me amoleço, me aqueço. E quando tu me perguntas porque te amo, eu rio, porque não sei. Não sei explicar. Acho que para essas coisas, a gente não acha explicação. Essas coisas a gente não se explica, simplismente sente, agudamente, no fundo da alma, palpitante, intensamente.
Então calo-me, mas não se preocupe comigo, é apenas um modo de ouvir o silêncio falar por nós, de ouvir sua respiração, e o vento arrastando as folhas frias pelas calçadas de concreto. O silêncio se faz tão puro, que as palavras tornam-se irrelevantes. Ouço-te neste silêncio intenso. E é nessa intensidade que vou vivendo, sentindo-te. Encontrando na nossa imperfeição, o perfeito. Remendando tantos medos, rasgando tantos breus, tantos tu's e tantos eu's. Seguindo lentamente, por entre sombras, e sóis, enquanto olho-te de perto, e seus olhos se borram, e seus lábios se abrem e sorriem.


Não sei explicar. Sinceramente não sei. Mas, acredito que essas coisas, a gente acaba chamando de amor.

Definições Vãs


Sou petulante, birrenta, metida e chata demais. Tenho um rei na barriga, e mais duas rainhas. Gosto de achocolatado quente ou frio, dependendo do meu humor. Prefiro o confortável ao elegante, por isso sou a favor do uso de tênis, não de saltos. Ando olhando para o céu, talvez porque meu mundo seja a lua. Se eu me desse bem com a matemática e a física, seria astrônoma. Sou de julho, canceriana chorona, dramática e sentimental. Não sei fazer amigos. Não sou boa de papo. Sou apaixonada pelo diferente, pelo inusitado. Gosto de tomar água e comer arroz. Sou mais xamãs que médicos. Prefiro terra a asfalto. Tomo chuva sempre que posso. Conto as estrelas sempre que as nuvens permitem. Sou complicada. Costumo encontrar a perfeição no imperfeito, no rasurado; lá estão minhas palavras rabiscadas à tinta. Sou boazinha demais, mas não abuse, ou verá meu outro eu. Prefiro os vilões, mas sempre torço pros mocinhos no fim. Não sou hippie, nem roqueira, nem indie. Sinceramente nunca consegui me identificar plenamente com quaisquer grupos, nunca consegui me entender.

Às vezes sofro comigo mesma. Sou meu maior orgulho, e minha maior decepção também. Sou insegura, mas algumas vezes posso me achar a dona da vez. Sou contraditória. Leio ficção. Gosto de Beatles, Nirvana, Hole, Sigur Ros, Radiohead, Chico Buarque e Lady Gaga.

Sou complexa, mas posso parecer tão simples. Um dia viajarei para a Amazônia., tomarei tequila até desmaiar, publicarei um livro e comprarei uma guitarra Les Paul. Um dia comprarei e lerei Cosmos (quando voltarem a editá-lo). Um dia irei a um show de folk-metal... Farei isso, se tudo der certo.

Tudo o que eu já fui me interessa, e muito, porque o que sou deriva do que fui. E o que sou? Não sei. E o que fui? Também não sei, e sinceramente prefiro não saber. Fui tantas coisas, tantos nadas e tantos tudos. Tão moderna e tão antiquada. Isto ainda sou, por enquanto, já que sou total desconhecedora do próximo instante. E é por isto que acho a vida tão fantástica: ela é uma caixinha de surpresas. Ela é miraculosa, e o miraculoso me atrai.
Pareço tranquila, mas sou um turbilhão, feroz. Sou inconstante. Escrevo textos, e depois rasgo-os e jogo-os fora. Nunca parecem tão bons naquele instante, mas se os guardo até o dia seguinte, eles se transformam num bom texto. Falo palavrões e gosto dos Beatniks. Chega. Parerei. Estou enjoada de mim. Assumo. Sou uma garota de limites, ou pelo menos tento ser. Gosto de falar de mim. Síndrome de piseudo-escritor egocêntrico, anti-reforma ortográfica. Enjoei. Vou me esfacelar. Até mais. Defini vagamente, porque penso que sei algo, mas na real, não sei nada.


De mim para mim.


Escrito à moda antiga, com tremas e chorumelas, numa noite obscura e confusa, ao som do silêncio.