Teu Silêncio

Ouço-te. Sinto tua voz em mim, fragmentada, em movimentos difusos e imperceptíveis. Te escuto entre partículas de silêncio, soando tão universal e intimista e oblíquo. Fecho minhas pálpebras calmamente, e sinto-me completa em teu timbre. Grito calada. Pareço estar presa, arranhada, em carne viva pulsante. Tento escapar, fugir, me refugiar em outro lugar, mas logo vem a paradoxal sensação de contentamento, e passo a gostar das grades que me prendem. Começo a alimentar-me delas, e desta estranha sensação tão ínfima, que me sacia e me esvazia. Transformo-me em nó aturdido, sangrento, vezes caído, vezes fluindo contentamento, ao respirar seus poros que me dopam docemente em eloqüência sacrílega. Embebedo-me em silêncio. Sua ordem fazendo minha desordem. Teus olhos reluzindo, indo e vindo, enquanto te espero, procuro e desejo em insanidade. Não anseio minha libertação, sinto-me completa em ti, em nossos instantes roubados. Completa. Nesta eterna sensação paradoxal, tenra e tão irreal.