De Ti

Gosto do gosto que tu tens, e do enrosco que de ti provém. Gosto de tua face irresoluta, e dos olhos rútilos que a compõe, tão vivos, tão expressivos. Sugo-te em plena essência, vivo de tua eloqüência, choro e me derramo, em leitoso pranto, que escorre no canto de tua ausência. Descasco meus dissabores, sou tua, vaga e vã, seguindo nossos ardores. Digo sem dizer-te, ouvindo tuas sílabas advindas, que roçam ao pé dos meus ouvidos, que encostam teus nós em meus sentidos, que gritam, fluem, pungentes em meu ser. Comprimo e transbordo-te, aos poucos, sugando-te sem receios, extraindo, indo e vindo, aspirando e resvalando em tua pele morna, sem rodeios. Eriço-me sem pudores, sou tua em nossos fulgores, compartilhando os vícios teus, enquanto corres teus dedos pelos meus. Crua, sem querer nem ter meios de ir. Nua, inalando e embriagando sem temores, os pedaços de ti.