Periodicamente visito a Biblioteca Municipal de minha cidade. E como consequência destas visitas, sempre acabo pegando emprestado dois livros trazidos de lá, no mínimo. A biblioteca é ampla, possui várias estantes de ferro, e um computador um tanto surrado, porém muito útil, para ajudar os visitantes nas pesquisas de autores e livros existentes ali. Contudo, ainda acredito ser uma pequena biblioteca, se comparada ao tamanho da cidade, e aos quatrocentos e tantos mil habitantes que aqui residem.
Na última quarta-feira, enquanto a chuva resolvia dar uma trégua por essas bandas, depois de ter enlameado as principais avenidas e o terminal rodoviário, resolvi "dar uma passada" por lá, para devolver duas obras: uma de Bataille e outra de Leminski. Para manter o bom costume de sempre levar um livro pra casa, fui caçando pelas prateleiras outros volumes que pudessem ser tão atraentes quanto os outros dois que eu estava devolvendo. Parei em frente à prateleira de "novas aquisições", como sempre faço, e fiquei a olhar para os novos livros adquiridos. Raramente pego emprestado algum destes, já que dificilmente chego até a biblioteca sem ter em mente alguma obra específica para ler, embora, algumas vezes eu não encontre a obra esperada por estar emprestada ou por não haver ali, já que o local vive de doações de autores, população e políticos. Desta forma, há alguns meses atrás, não pude encontrar On The Road na minha primeira busca pelas mesmas prateleiras de claro cinza. Nenhuma obra de Jack Kerouac. Nada. Até que encomendei numa livraria, e então pude lê-lo tranquilamente, enquanto saboreava a genialidade da era Beatnik. Mas, não nos detenhamos em antigos episódios, vamos direto para a quarta-feira não chuvosa, enquanto eu me detinha para observar os livros recém adquiridos.
Estava a fitar os novos volumes, quando me deparei novamente com uma obra que pela segunda vez me chamou a atenção. A capa um tanto sugestiva, trazia a gravura de uma cabeça de porco dependurada sobre uma espécia de corpo humano e na lateral esquerda a cabeça de um cão. Ana Paula Maia, pude ler em letras rosas na capa do livro. Até então desconhecida para mim. Até então...
Mal pude esperar para chegar em casa e lê-lo. Na contra-capa do livro, havia algumas informações referentes a autora, e uma foto da mesma, além de um endereço de seu blog. Assim que conectei-me a internet, digitei na barra de endereços http://www.killing-travis.blogspot.com e li "Puta Natal". Achei-o genial. Humor negro. Humor cinza. Humor sem cor, e ao mesmo tempo transgressor, que nos faz prender a atenção do início até o fim. Logo em seguida, desliguei o computador e corri para o livro, devorando suas 158 páginas em apenas um dia.
Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos, é um livro que dispensa categorias, mas que poderia muito bem ser denominado de realismo visceral. Suas duas novelas contidas nas 158 páginas, se entrelaçam e se passam no mesmo local fétido, calorento e imundo, onde a vida humana tem pouco valor. Seus personagens, são homens que sobrevivem de abater porcos, recolher lixo, quebrar asfalto e desentupir fossas e esgotos. São homens que aprenderam a trabalhar, sem questionar. Trabalhar e gastar o dinheiro do trabalho em rinhas de cachorros. Homens estes que executam trabalhos pouco valorizados, mas de extrema importância.
Na segunda novela, denominada Trabalho Sujo dos Outros, Ana Paula Maia nos exibe uma sociedade onde coletores de lixo entram em greve, e temos de lidar com o lixo que produzimos, com os abutres que tentam se apoderar da sujeira, com as doenças trazidas por ratazanas, e com toda a pestilência que o lixo amotinado pelas calçadas e asfaltos nos traz. Num mundo onde a produção de lixo tem aumentado a cada dia, somos levados a uma profunda reflexão sobre nossas ações perante o planeta que vivemos. E é entrelinhas, que a nova e genial escritora brasileira, nos aponta tais questões. A partir destas duas novelas narradas em tom naturalista Ana Paula Maia nos leva a refletir em meio a ao cheiro de tripas e baratas de esgoto, regadas ao sangue, na medida de Tarantino.
Um livro que deixa marcas e rastros. Um livro ímpar, que transpassa a base das palavras, e nos leva ao mundo das sensações, onde o cheiro se infiltrará pelas narinas até a última página.
Na última quarta-feira, enquanto a chuva resolvia dar uma trégua por essas bandas, depois de ter enlameado as principais avenidas e o terminal rodoviário, resolvi "dar uma passada" por lá, para devolver duas obras: uma de Bataille e outra de Leminski. Para manter o bom costume de sempre levar um livro pra casa, fui caçando pelas prateleiras outros volumes que pudessem ser tão atraentes quanto os outros dois que eu estava devolvendo. Parei em frente à prateleira de "novas aquisições", como sempre faço, e fiquei a olhar para os novos livros adquiridos. Raramente pego emprestado algum destes, já que dificilmente chego até a biblioteca sem ter em mente alguma obra específica para ler, embora, algumas vezes eu não encontre a obra esperada por estar emprestada ou por não haver ali, já que o local vive de doações de autores, população e políticos. Desta forma, há alguns meses atrás, não pude encontrar On The Road na minha primeira busca pelas mesmas prateleiras de claro cinza. Nenhuma obra de Jack Kerouac. Nada. Até que encomendei numa livraria, e então pude lê-lo tranquilamente, enquanto saboreava a genialidade da era Beatnik. Mas, não nos detenhamos em antigos episódios, vamos direto para a quarta-feira não chuvosa, enquanto eu me detinha para observar os livros recém adquiridos.
Estava a fitar os novos volumes, quando me deparei novamente com uma obra que pela segunda vez me chamou a atenção. A capa um tanto sugestiva, trazia a gravura de uma cabeça de porco dependurada sobre uma espécia de corpo humano e na lateral esquerda a cabeça de um cão. Ana Paula Maia, pude ler em letras rosas na capa do livro. Até então desconhecida para mim. Até então...
Mal pude esperar para chegar em casa e lê-lo. Na contra-capa do livro, havia algumas informações referentes a autora, e uma foto da mesma, além de um endereço de seu blog. Assim que conectei-me a internet, digitei na barra de endereços http://www.killing-travis.blogspot.com e li "Puta Natal". Achei-o genial. Humor negro. Humor cinza. Humor sem cor, e ao mesmo tempo transgressor, que nos faz prender a atenção do início até o fim. Logo em seguida, desliguei o computador e corri para o livro, devorando suas 158 páginas em apenas um dia.
Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos, é um livro que dispensa categorias, mas que poderia muito bem ser denominado de realismo visceral. Suas duas novelas contidas nas 158 páginas, se entrelaçam e se passam no mesmo local fétido, calorento e imundo, onde a vida humana tem pouco valor. Seus personagens, são homens que sobrevivem de abater porcos, recolher lixo, quebrar asfalto e desentupir fossas e esgotos. São homens que aprenderam a trabalhar, sem questionar. Trabalhar e gastar o dinheiro do trabalho em rinhas de cachorros. Homens estes que executam trabalhos pouco valorizados, mas de extrema importância.
Na segunda novela, denominada Trabalho Sujo dos Outros, Ana Paula Maia nos exibe uma sociedade onde coletores de lixo entram em greve, e temos de lidar com o lixo que produzimos, com os abutres que tentam se apoderar da sujeira, com as doenças trazidas por ratazanas, e com toda a pestilência que o lixo amotinado pelas calçadas e asfaltos nos traz. Num mundo onde a produção de lixo tem aumentado a cada dia, somos levados a uma profunda reflexão sobre nossas ações perante o planeta que vivemos. E é entrelinhas, que a nova e genial escritora brasileira, nos aponta tais questões. A partir destas duas novelas narradas em tom naturalista Ana Paula Maia nos leva a refletir em meio a ao cheiro de tripas e baratas de esgoto, regadas ao sangue, na medida de Tarantino.
Um livro que deixa marcas e rastros. Um livro ímpar, que transpassa a base das palavras, e nos leva ao mundo das sensações, onde o cheiro se infiltrará pelas narinas até a última página.