Estou sentada. Ouço os pingos de chuva que insistentemente batem em minha janela. Tamborilando. Enchendo-me de ecos, e breus. Prego meus olhos nos olhos negros da fotografia, olhos estes que são teus. Respiro. As gotas parecem aumentar compassadamente. Som do céu. Som do som. Inspiro. Tenho frio. Tremo sob um fino cobertor cheirando a mofo e a perfume barato. O relógio descompassa o compasso do som. Agora, entro em transe, caminho para o estupor. Meu contentamento arrasta indícios de minha dor. Olho para o lado, e fito-me longamente no espelho. Sou uma estranha para mim. Tenho olhos feito borrões, cabelos desgrenhados e um olhar de sono. Miro o celular. Nenhuma chamada perdida. Nenhum recado guardado. Nenhum souvenir de tua voz. Então viro para o outro lado. Colo minha face na fria cama, e adormeço. Sono, enquanto sonho que te amo, enquanto os pingos batem incessantemente na janela, enquanto descubro não ser sonho, o sonho de te amar.