Jorge acordava às 5 da manhã. Lucas às 6. Jorge ia até a pequena geladeira para procurar o café da manhã. Lucas sentava-se à mesa e encontrava comida em abundância. Jorge não. Lucas possuía vários carrinhos importados, roupas de marca e chocolates. Jorge possuía um estilingue velho. Lucas era levado toda a manhã para estudar na mais conceituada escola da região. Seus pais eram pessoas bem sucedidas, tanto na vida profissional quanto na vida familiar. O único filho do casal fora concebido por um milagre, e ambos faziam questão de cuidar do menino, como jóia rara e lustrosa. Jorge era órfão de pai, que morrera baleado por traficantes da favela.
Todos os dias Jorge seguia com sua mãe, para o lixão, era lá que estava depositado todo o sustento de sua família. Haviam perdido tudo, menos a dignidade que faziam questão de conservar. Lucas morava em casa grande, com cinco quartos, duas salas e papel decorado enfeitando as paredes. Jorge também possuia papel nas paredes. Era usado para impedir que a chuva inundasse seu humilde lar, feito com táboas e tijolos de barro fabricados pelo seu tio. Possuía seis irmãos. Morava embaixo de uma telha, dois cômodos divididos por uma lona.
Lucas tinha livros, cadernos e lápis de cor. Jorge nunca tivera a oportunidade de frequentar uma escola. Lucas possuía um quarto todo decorado. Jorge possuía esperança. Enquanto Lucas brincava, Jorge lutava. Não uma luta corporal, uma luta feroz por comida. Era preciso madrugar no lixão, era preciso procurar no fundo de cada amontoado de plásticos, papéis, restos de comida apodrecida e sujeira, algo que pudesse encher as panelas e o estômago, algo que os livrasse de um dia de fome.
Lucas viajava nas férias escolares. Jorge viajava todos os dias, pelos escombros da imaginação, enquanto repousava sua cabeça no velho travesseiro que dividia com um irmão mais novo.
Certo dia ambos se encontraram. Lucas sentado no banco traseiro do carro de seu pai. A luz no semáforo era vermelha. Jorge voltava de seu “trabalho”. As mãos sujas de lixo. Estava feliz. Conseguira um bom pedaço de carne para o jantar. Nas mãos a sacolinha branca, meio escondida, meio envergonhada de se mostrar. Os pézinhos muito sujos vinham descalços, enfretando com ardência o asfalto.
Jorge atravessou a rua cantarolando. Lucas estava disperso. A luz do sinal se fez verde, o carro dobrou a esquina e novamente o menino apareceu. Ambos se entreolharam. Lucas com sua alegria de criança sorriu. Jorge imerso em sua própria felicidade, pela sorte que tivera naquele dia encontrando comida, retribuiu o sorriso.
Os dois eram crianças, e possuíam aquele brilho majestoso no olhar. Eram diferentes por um único motivo: Lucas vivia, Jorge sobrevivia.
Todos os dias Jorge seguia com sua mãe, para o lixão, era lá que estava depositado todo o sustento de sua família. Haviam perdido tudo, menos a dignidade que faziam questão de conservar. Lucas morava em casa grande, com cinco quartos, duas salas e papel decorado enfeitando as paredes. Jorge também possuia papel nas paredes. Era usado para impedir que a chuva inundasse seu humilde lar, feito com táboas e tijolos de barro fabricados pelo seu tio. Possuía seis irmãos. Morava embaixo de uma telha, dois cômodos divididos por uma lona.
Lucas tinha livros, cadernos e lápis de cor. Jorge nunca tivera a oportunidade de frequentar uma escola. Lucas possuía um quarto todo decorado. Jorge possuía esperança. Enquanto Lucas brincava, Jorge lutava. Não uma luta corporal, uma luta feroz por comida. Era preciso madrugar no lixão, era preciso procurar no fundo de cada amontoado de plásticos, papéis, restos de comida apodrecida e sujeira, algo que pudesse encher as panelas e o estômago, algo que os livrasse de um dia de fome.
Lucas viajava nas férias escolares. Jorge viajava todos os dias, pelos escombros da imaginação, enquanto repousava sua cabeça no velho travesseiro que dividia com um irmão mais novo.
Certo dia ambos se encontraram. Lucas sentado no banco traseiro do carro de seu pai. A luz no semáforo era vermelha. Jorge voltava de seu “trabalho”. As mãos sujas de lixo. Estava feliz. Conseguira um bom pedaço de carne para o jantar. Nas mãos a sacolinha branca, meio escondida, meio envergonhada de se mostrar. Os pézinhos muito sujos vinham descalços, enfretando com ardência o asfalto.
Jorge atravessou a rua cantarolando. Lucas estava disperso. A luz do sinal se fez verde, o carro dobrou a esquina e novamente o menino apareceu. Ambos se entreolharam. Lucas com sua alegria de criança sorriu. Jorge imerso em sua própria felicidade, pela sorte que tivera naquele dia encontrando comida, retribuiu o sorriso.
Os dois eram crianças, e possuíam aquele brilho majestoso no olhar. Eram diferentes por um único motivo: Lucas vivia, Jorge sobrevivia.